O funcionário ideal: você se
encaixa neste perfil?
Pró-atividade, iniciativa e
ética são qualidades que garantem ao funcionário um lugar ao sol nas empresas.
“O profissional precisa sair
de sua zona de conforto e experimentar”.
João faz estágio no mesmo
escritório de advocacia há dez meses. Todos os dias, quando chega ao trabalho,
ele faz exatamente a mesma coisa: anota na agenda as obrigações do dia,
responde seus e-mails, faz algumas ligações e espera ordens do patrão. Por volta
das três da tarde, todas as tarefas designadas a ele estão devidamente
cumpridas. Sem saber o que fazer, João decide acessar sua rede social favorita.
Maria, que trabalha na mesa ao lado, interrompe a diversão e pede ajuda para
revisar um processo no qual está trabalhando. De má vontade, já que aquela
função não é dele, João ajuda a colega enquanto conta os minutos para o fim do
expediente. Quando o relógio marca cinco horas, ele é o primeiro a sair do
escritório. Dia após dia, a história se repete. Dia após dia, João espera uma
contratação que não chega. Muito provavelmente, não chegará.
O caso é fictício, mas pode
parecer familiar para muitos gestores. Afinal, que atire a primeira pedra quem
nunca teve um funcionário sem iniciativa ou perspectivas de crescimento. Da
mesma forma, existem profissionais que se veem na situação de João: não sabem o
que fazer para se destacar no ambiente de trabalho e, assim, acabam
negligenciando a própria carreira e desperdiçando potencial. De acordo com
Janaina Manfredini, executive master coach da Effecta, de Blumenau, não saber
qual é o seu lugar no mercado costuma ser o pontapé inicial em uma imensidão de
problemas. “O profissional precisa sair de sua zona de conforto e experimentar.
Não adianta estabelecer uma determinada meta para a carreira e acabar
frustrado, ao perceber que aquilo não é o que você imaginou”, declara, em
entrevista ao Noticenter.
Segundo ela, traçar um plano
estratégico dentro da área de interesse é a melhor forma de saber o que o
mercado espera do profissional. “Pesquisa é a palavra ordem. Somente assim é
possível descobrir quais são as exigências e competências que a empresa busca
em seu próximo funcionário”, aconselha ela. “Iniciativa também é importante, já
que os chefes precisam saber que a equipe está apta a tomar decisões por si
própria”, acrescenta.
“Isso não é obrigação minha”
Na hora de preencher as
vagas disponíveis, muitas empresas avaliam a pró-atividade dos candidatos. A
blumenauense Morphy Agência Interativa é uma delas. Analista de Recursos
Humanos na empresa, Natália Floriano diz que essa característica é essencial
para contar pontos na seleção. “Queremos alguém que trabalhe em equipe, com
comprometimento e responsabilidade”, conta. “Criatividade e inovação também são
qualidades importantes. Sai na frente o profissional que pensa no coletivo e
não se limita ao próprio trabalho”, acrescenta Natália.
Ignorar determinada ordem ou
fazer cara feia ao ser orientado a cumprir uma tarefa de fora do seu
departamento são atitudes que não transmitem profissionalismo. Enxergar
oportunidades e fazer com que elas aconteçam é um sonho da grande maioria dos
gestores. “O patrão quer alguém que não dependa dele para absolutamente tudo. O
funcionário ideal deixa o chefe bem informado, mas consegue ser independente,”,
explica Janaina.
Uma pesquisa realizada pela
consultoria carioca Etalent constatou que o DNA do profissional brasileiro é
constituído por traços bastante específicos. Segundo o estudo, desorganização e
centralização são duas constantes. Além disso, a maioria das pessoas é pouco
produtiva e não se interessa pelo resultado que vai gerar num todo, dentro da
empresa em que trabalha. “É aí que repousa o erro: na individualidade. É
necessário que o profissional pense no impacto que tem o seu trabalho, combinado
ao trabalho dos outros, no dia a dia da companhia”, aponta Janaina.
Gestos simples, como ajudar
um colega a digitalizar um texto ou atender um telefonema de alguém que não
está em sua mesa, podem fazer toda a diferença quando o assunto é pró-atividade.
“Não preciso aprender mais
nada”
Engana-se quem pensa que
sabe de tudo. Pode acreditar: sempre haverá alguém que sabe um pouco mais que
você. E esta pessoa está somente esperando a oportunidade de tomar o seu lugar
no mercado de trabalho. “Por isso é tão importante estar em constante
aperfeiçoamento. Seja com uma pós-graduação ou um curso de inglês, o bom
profissional está sempre atrás de novas competências”, ressalta Janaina.
Pensando nisso, a Morphy
investe em capacitação interna. Segundo Natália, esse tipo de iniciativa mostra
que a empresa valoriza o profissional. E que, se for comprometido com seu
trabalho, ele vai abraçar a oportunidade. “Nosso objetivo é ampliar os
conhecimentos e formar uma equipe cada vez mais qualificada. Abrimos espaço
para ações em que os próprios colaboradores compartilham o conhecimento”, diz
ela. “Também estimulamos eventos e treinamentos externos”, complementa.
Adriaan Vogel, um dos sócios
da marca têxtil catarinense Von der Völke, completa o time que acredita no
incentivo individual para intensificar o bom desempenho coletivo. “Não importa
o segmento, as pessoas são fundamentais. Queremos que os nossos profissionais
cresçam conosco e, por isso, oportunizar o aprendizado e o crescimento são
ferramentas importantes”, garante.
“Mas foram só cinco
minutinhos”
Tanto a Morphy quanto a Von
der Völke dizem ser inaceitável a falta de ética na rotina de trabalho. Junto a
isso, na lista de atitudes que devem ser evitadas, muitas empresas apontam os
atrasos. Afinal, quando é permitido que o funcionário se atrase? De que forma
ele deve ser advertido? E o que fazer quando a pessoa tem todo o talento do
mundo, mas não consegue cumprir horários?
Foi pensando em solucionar
estes enigmas que Adriaan e seus sócios criaram um programa em que o
funcionário tem a possibilidade de se autogerenciar. “Nós acreditamos muito que
um profissional precisa estar ligado a resultado, não a horário ou formato de
trabalho. Então, no início da semana, propomos uma lista de atividades em que
cada um tem suas responsabilidades e consegue acompanhar as tarefas
compartilhadas e, inclusive, as tarefas dos seus gestores”, explica ele. “Desta
maneira, focamos em resultados e permitimos que cada um trabalhe com o tempo da
maneira como se organizar melhor”, complementa.
Segundo Adriaan, há pessoas
que simplesmente não se adaptam a este tipo de modelo, que precisam de um
horário, um acompanhamento mais próximo. “Entendemos essa maneira de trabalhar
e não temos nenhum tipo de preconceito com ela. Mas, no momento, esta é a nossa
maneira de tentar trazer a qualidade de vida que passamos nas nossas peças para
a nossa rotina”, destaca. Para ele, fica claro que uma pessoa é capaz de se
autogerenciar quando, por exemplo, é organizada com a própria agenda. “É
necessário um controle muito grande sobre o que precisa ser feito e,
especialmente, sobre prazos”, finaliza.