"BRASIL: um retrato assustador da economia brasileira" |
É fácil
para o visitante que chega ao Rio achar que não há nada de errado com o Brasil.
A classe média com certeza sabe viver: Copacabana e Ipanema distam apenas
alguns minutos dos principais centros financeiros e comerciais e de um jogo de
vôlei ou o surfe para começar o dia. Os escritórios das corretoras localizados
no alto dos prédios têm a visão do Jardim Botânico e dos morros cobertos de
vegetação. Mas, mal saímos dos bairros mais ricos, o esplendor desaparece
rapidamente. As favelas assoladas pela pobreza e pela violência agarram-se aos
morros. O mesmo ocorre com a economia do Brasil: quanto mais profundo é o nosso
olhar, pior ela se revela.
O Brasil
viu consideráveis altos e baixos nos últimos 25 anos. No início dos anos 90, a
inflação subiu acima de 2.000%; desapareceu quando foi introduzida uma nova
moeda em 1994. Na virada do século, os déficits do Brasil mergulhavam o País na
lama, obrigando o Fundo Monetário Internacional a empreender uma operação de
ajuda em 2002. Mas, em seguida, os problemas desapareceram. O Brasil tornou-se
um gigante em matéria de crescimento, expandindo-se a uma taxa de 4% ao ano
entre 2002 e 2008, enquanto as exportações de ferro, petróleo e açúcar
registravam um boom e o consumo interno contribuía com um forte impulso
adicional. Agora, o Brasil volta a afundar em problemas. Nos últimos quatro
anos, o crescimento foi em média de 1,3%. Uma pesquisa realizada entre 100
economistas pelo Banco Central do Brasil sugere que, este ano, a contração será
de 0,5%, seguida por um crescimento de 1,5% em 2016.
Ambos os
elementos dessa previsão - uma crise suave e uma rápida recuperação - parecem
otimistas. As perspectivas para o consumo privado, que contribuiu para um
crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 50% nos últimos dez anos, são
péssimas. Com uma inflação acima de 7%, o poder aquisitivo dos consumidores vai
se esvaindo. Os aumentos elevados dos preços continuarão. O Brasil enfrenta uma
grave crise hídrica; como 75% de sua eletricidade são gerados por
hidrelétricas, a seca deixa o País sem energia. A fim de evitar apagões, o
governo pretende reduzir o seu uso elevando os preços: as tarifas aumentarão
até 30% este ano. Com uma desvalorização do real de 10% em relação ao dólar
somente no mês passado, o aumento dos preços dos importados provocará uma
elevação da inflação.
Não há
esperanças de que a renda disponível acompanhe esse ritmo. Um dos motivos é a
produtividade do trabalhador brasileiro, que não justifica maiores aumentos.
Nos últimos dez anos, os salários do setor privado cresceram mais rapidamente
do que o PIB; os dos trabalhadores do setor público, privilegiados em muitos
sentidos, tiveram uma evolução ainda melhor. Como o salário mínimo brasileiro
está indexado ao PIB e à inflação, uma recessão congelará o valor real dos
pagamentos dos milhões de trabalhadores que vivem dele.
Além
disso, a austeridade também terá consequências profundas, porque o novo
ministro da Fazenda, Joaquim Levy, vai procurar equilibrar as contas. Se Levy
reformar o generoso sistema das pensões estatais, a renda dos brasileiros mais
idosos congelará.
O
pagamento da dívida contribui para os problemas. O total dos empréstimos ao
setor privado saltou de 25% do PIB para 55% nos últimos dez anos, com a dívida
das famílias equivalente a cerca de 46% da renda disponível. As famílias
brasileiras estão muito menos endividadas do que as italianas e as japonesas.
Entretanto, os preços desses empréstimos são altíssimos. Oitenta por cento
deles referem-se ao crédito ao consumidor, cujo custo chega a ser punitivo (os
juros médios dos novos empréstimos chegam a 27%, segundo o Banco
Central).
Quando se
soma o pagamento do principal da dívida, o serviço da dívida chega a 21% da
renda disponível. Com a redução do ritmo da economia e com a relutância do
Banco Central em reduzir as taxas de juros por causa da inflação elevada, os
consumidores sentirão o aperto, diz Arthur Carvalho, do Morgan Stanley. No dia
25 de fevereiro, uma pesquisa mostrou que a confiança dos consumidores atingiu
o ponto mais baixo dos últimos dez anos.
São
poucas as fontes de demanda capazes de compensar essa situação. Os
investimentos, que subiram durante oito dos dez anos até 2013, muitas vezes a
uma taxa considerável, despencarão em 2015. A Petrobrás, empresa de economia
mista, a maior investidora do Brasil, está atolada num escândalo de corrupção
que paralisou os gastos e deverá custar até 1% do PIB em investimentos
estrangeiros perdidos. No dia 24 de fevereiro, a agência de classificação de
risco Moody’s cortou a nota da estatal para grau especulativo; se a Petrobrás
não publicar dentro em breve seus resultados auditados, poderá ficar totalmente
impossibilitada de tomar dinheiro emprestado.
Exportar
não é solução, apesar da queda do real. Cinco países - China, Estados Unidos,
Argentina, Holanda e Alemanha - adquirem 45% das exportações brasileiras. Há
dez anos, o crescimento médio do PIB dessas economias, proporcional ao seu peso
no comércio brasileiro, era 12%; este ano, 5% seria ótimo.
Entretanto,
a maior preocupação não é que o Brasil tenha um ano ruim, mas que as alavancas
emperradas de sua política levem o País ao marasmo. Em 2014, o Brasil gastou R$
311,4 bilhões (6% do PIB) com o pagamento dos juros, um aumento de 25% em
relação a 2013.
Isso
significa que, mesmo se as medidas que o ministro Levy adotar na área fiscal
chegarem a funcionar - o seu objetivo é um superávit primário de 1,2% do PIB -,
o Brasil nem chegará a sair do vermelho. Tem sido difícil controlar os gastos,
porque os pagamentos dos benefícios aumentam apesar da redução do desemprego.
Numa recessão, isso será mais difícil ainda.